A
capa daquela revista ostentava um sugestivo título: Conheça as melhores escolas
para o seu filho. Imaginei que as maravilhas anunciadas, certamente, iriam
gerar filas de espera para matrícula e as “boas escolas” publicitadas na
revista iriam ter salas abarrotadas de alunos. Mas também me questionei: a
opinião pública saberá distinguir o que sejam escolas boas, más e vilãs? A
mídia não ajuda, quando usa e abusa da expressão ambígua “boas escolas”,
identificando-as com escolas ditas “de ensino tradicional”. Afinal, o que são
“boas escolas?
Os
indefectíveis partidários do regresso ao passado – como se de lá já tivéssemos
saído… – elegeram como “vilã” a escola das ditas “novas pedagogias”. Novas? Mas
os seus avatares são velhos, quase fósseis! Piaget nasceu no século XIX.
Vigotsky morreu há quase cem anos. Montessori criou a sua escola em 1907. E
Dewey escreveu o seu livro essencial em 1905. E a “má escola” é a “escola
pública”, já se vê, uma instituição maltratada, vilipendiada, que sobrevive nas
margens da obsolescência.
Numa
simples expressão se sintetiza aquilo que o leigo considera “boa escola”: é
aquela que, desde a creche, prepara o aluno para passar no vestibular, aquela
que ocupa os primeiros lugares dos rankings. Mas o que nos dizem os rankings?
Dir-se-á que assinalam escolas cujos alunos mais conteúdos aprenderam? Mas, na
verdade, as designadas “boas escolas” apenas adotaram algumas habilidades
pedagógicas, que os potenciais clientes adoram. Os quadros interativos, por
exemplo, não são mais do que quadros negros do século XXI. E a cosmética
pedagógica não disfarça a pobreza das práticas, apenas dão um ar de modernidade
a práticas fósseis.
As
“boas escolas” cuidam da formação sócio-moral dos seus alunos? Os rankings
atestam honestidade? Não creio. Se assim fosse, como se explicaria que, entre
as élites que as frequentaram, se contem muitos corruptos de colarinho branco?
Quantos conformistas são produzidos nas “boas escolas”, que vão ocupar as
cadeiras do poder, incapazes de uma postura humanista e inovadora? Qual a moral
prevalecente nas “boas escolas”? Aquela que legitima a aplicação de
vestibulinhos? Entre o vestibulinho e o vestibular, impunemente, muitas das
ditas “boas escolas” produzem exclusão.
Qual
a moral que as autoriza a condicionar a matrícula apenas a “bons alunos”, ou a
recusar a matrícula de crianças “especiais”? Será aquela que leva escolas,
crónicas ocupantes do topo dos rankings, a falsear resultados, evitando que os
seus “piores alunos” façam prova…?
Na
“boa”, como na “má” escola, são produzidos bonsais humanos, quer sejam
traficantes de favela, quer sejam criminosos de colarinho branco. Daí que
talvez fosse útil acabar com o mito da “boa escola”. E pugnar para que todas as
escolas sejam boas escolas. Aquilo que distingue uma “boa” de uma “má escola”
não é o dispor, ou não dispor, de salas de aula 3d, lousa digital, tablets para
todos… Isso são enfeites pedagógicos de um modelo de ensino obsoleto.
Em
suma: é o reconhecimento da existência de “boas escolas” que legitima a
existência das “más escolas”. Porém, não parece ser essa a nossa sina, dado
que, quer os zelosos e abastados progenitores dos alunos das “boas”, quer os
indiferentes e pobres pais dos alunos das “más”, as patrocinam. Uns com
mensalidades faraónicas, outros com a bolsa famíla, ajudam a manter a “boa
escola” das suas representações. E a tragédia educacional continua no próximo
ato…
Afinal,
o que será uma “boa escola”? Não será aquela que a todos acolhe e a cada qual
dá condições de ser sábio e feliz, independentemente de ter patrocínio público
ou privado? E se nos deixássemos de maniqueísmos fúteis?
José Pacheco, 2012